Em Re-construção Constante

Não adianta parar, o caminho não termina porque você cansou. Ele termina quando você chega.







sexta-feira, março 02, 2007

A Song to a Siren

CAPÍTULO I
ONDE SE FALA SOBRE QUEM ESTÁ ESPERANDO PARA SEGURAR A SUA MÃO QUANDO TUDO ACABAR


Eu me sentei diante do computador pensando no que eu poderia fazer para passar o tempo. Não conseguia concentrar a atenção em nada, como um pêndulo ela se esvaia entre a janela e o computador. Duas telas. Enquanto isso, uma música tocava na minha cabeça sem parar, eu tentava capturá-la, mas ela fugia, restando só o rastro de uma melodia.
uhuhm-uhnm-hum.

Por fim eu consegui capturar uma frase, como um grão de areia que fica na palma da mão depois que todo o punhado escorre pelos dedos quando a onda vem:

"Did I dream you dreamed about me?"

E os ecos,
Did I dream you dreamed about me?
Did I dream you dreamed about me?
Did I dream you dreamed about me?
Did I dream you dreamed about me?
Como se alguém quisesse me mandar uma mensagem, um código, uma pista, um fio de Ariadne.
Did I dream you dreamed about me?

Uma canção de amor? O que é uma canção de amor? Quem ama e quem é o amado? Quem envia através da minha própria alma uma canção de amor? Quem é o meu outro eu perdido nas brumas do tempo, da realidade, da incerteza? A música era "A Song to a Siren" e ela se repetiria em mim por dias seguidos, como muitas músicas que me perseguem obsessivamente, intoxicando todos os minutos de quase lucidez.

"Here I am, Here I am, waiting to hold you." Continuava sussurrando.

Pulando para um outro tempo eu me lembrei quando escrevi um conto, em primeira pessoa, a personagem era um pouco eu, um pouco uma antiga amiga, um pouco de mais alguém, uma colagem. Alguém leu, achou que estava escrevendo sobre algo que se passara entre nós. Não mesmo meu bem, no fundo só podemos escrever sobre nós mesmos. Aprisionados.
Entre nós a um vazio que tentamos preencher inutilmente.
Mas quem ler sempre vai achar que se escreve sobre si, por que nesse mundo só existe o si mesmo. Estamos todos separados.

É por isso que todas as canções que amo falam de mim, sobre mim. E a sereia que me chama sou eu, que faço o meu barco naufragar, para o bem ou para o mal.

Song to a Siren

On the floating, shipless, oceans
I did all my best to smile
til your singing eyes and fingers
drew me loving into your eyes.
And you sang;Sail to me, sail to me,
Let me enfold you.
Here I am, here I am
waiting to hold you.

Did I dream you dreamed about me?
Were you here when I was full sail?
Now my foolish boat is leaning,
broken lovelorn on your rocks.
For you sang;Touch me not, touch me not,
Come back tomorrow.
Oh my heart, oh my heart shies from the sorrow.

I'm as puzzled as a newborn child.
I'm as riddled as the tide.
Should I stand amid the breakers?
Or shall I lie with death my bride?
Here me sing; Swim to me, swim to me,
Let me enfold you

Tim Buckley's


Para versão do Cocteu Twins:
Song to a Siren

Here I am, Here I am, waiting to hold you.



Algo no meu peito me diz que está esperando para me abraçar.

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