Em Re-construção Constante

Não adianta parar, o caminho não termina porque você cansou. Ele termina quando você chega.







terça-feira, janeiro 08, 2013

O MAR RECOLHE SEUS FILHOS




O único lugar em que se vale a pena gravar nossos nomes é na areia da praia. As ondas são os únicos eventos propícios a ouvir nossos discursos. Castelo de areia é a morada mais correta para aquele que ousa sonhar com a dissolução.

Tem dias que tudo o que eu queria era ser sal.



Será que todas as pegadas que deixei foram realmente apagadas? Será que todas serão? 


Todo fim de tarde eu busco o mar, as ondas que dissolvem pedras. Talvez elas consigam dissolver minhas pedreiras.  Talvez elas consigam me libertar. Mas isso eu sei que não é possível a não ser que eu seja o mar, as ondas, a dissolução.


2 comentários:

k disse...

Uma oração

BY Jorge Luis Borges


Minha boca pronunciou e pronunciará, milhares de vezes e nos dois idiomas que me são íntimos, o pai-nosso, mas só em parte o entendo. Hoje de manhã, dia primeiro de julho de 1969, quero tentar uma oração que seja pessoal, não herdada. Sei que se trata de uma tarefa que exige uma sinceridade mais que humana. É evidente, em primeiro lugar, que me está vedado pedir. Pedir que não anoiteçam meus olhos seria loucura; sei de milhares de pessoas que vêem e que não são particularmente felizes, justas ou sábias. O processo do tempo é uma trama de efeitos e causas, de sorte que pedir qualquer mercê, por ínfima que seja, é pedir que se rompa um elo dessa trama de ferro, é pedir que já se tenha rompido. Ninguém merece tal milagre. Não posso suplicar que meus erros me sejam perdoados; o perdão é um ato alheio e só eu posso salvar-me. O perdão purifica o ofendido, não o ofensor, a quem quase não afeta. A liberdade de meu arbítrio é talvez ilusória, mas posso dar ou sonhar que dou. Posso dar a coragem, que não tenho; posso dar a esperança, que não está em mim; posso ensinar a vontade de aprender o que pouco sei ou entrevejo. Quero ser lembrado menos como poeta que como amigo; que alguém repita uma cadência de Dunbar ou de Frost ou do homem que viu à meia-noite a árvore que sangra, a Cruz, e pense que pela primeira vez a ouviu de meus lábios. O restante não me importa; espero que o esquecimento não demore. Desconhecemos os desígnios do universo, mas sabemos que raciocinar com lucidez e agir com justiça é ajudar esses desígnios, que não nos serão revelados.

Quero morrer completamente; quero morrer com este companheiro, meu corpo.

ricardo alves / são paulo,brasil disse...

há sempre mistério,lirismo e Vontade por aqui!