Em Re-construção Constante

Não adianta parar, o caminho não termina porque você cansou. Ele termina quando você chega.







sexta-feira, abril 21, 2006

O Sono



O Sono


O sono que desce sobre mim,

O sono mental que desce fisicamente sobre mim,

O sono universal que desce individualmente
sobre mim ?
Esse sono
Parecerá aos outros o sono de dormir,
O sono da vontade de dormir,
O sono de ser sono.


Mas é mais, mais de dentro, mais de cima:
E o sono da soma de todas as desilusões,
É o sono da síntese de todas as desesperanças,

É o sono de haver mundo comigo lá dentro
Sem que eu houvesse contribuído em nada para
isso.


O sono que desce sobre mim
É contudo como todos os sonos.
O cansaço tem ao menos brandura,
O abatimento tem ao menos sossego,
A rendição é ao menos o fim do esforço,
O fim é ao menos o já não haver que esperar.


Há um som de abrir uma janela,
Viro indiferente a cabeça para a esquerda
Por sobre o ombro que a sente,
Olho pela janela entreaberta:
A rapariga do segundo andar de defronte
Debruça-se com os olhos azuis à procura de
alguém.
De quem?,
Pergunta a minha indiferença.
E tudo isso é sono.


Meu Deus, tanto sono! ...


Álvaro de Campos

2 comentários:

Rita disse...

Álvaro de Campos é uma das minhas almas gémeas... curiosamente, todos os seus heterónimos também:)
Gostava de pensar que o sono a que ele se refere é a paz que vem da aceitação das coisas como elas são... vamos pensar assim:)?
**********S:)

Anônimo disse...

Infelizmente não é assim que vejo. O sono que percebo é a inércia, a indolência que nos atrasa o despertar.