Em Re-construção Constante

Não adianta parar, o caminho não termina porque você cansou. Ele termina quando você chega.







terça-feira, junho 23, 2009

Ao VK, na despedida...Porque se busca Somente a Verdade

Buda falava contra os brâmanes, contra os hindus, mas todos os seus grandes
discípulos eram brâmanes. Dá pra entender isso, porque ele exercia atração
sobre os melhores da sociedade. Embora ele fosse contra os brâmanes, estes
estavam no topo da escada e desse meio veio a maior parte da intelligentsia.

Sariputta era brâmane, Moggalayan era brâmane, Mahakashyapa era brâmane...
todos eles foram a Buda por não serem idiotas iletrados, os rejeitados -
jogadores, prostitutas, coletores de impostos, ladrões -, mas por serem
grandes eruditos e conseguirem entender que estava certo o que Buda dizia.

Quando Sariputta veio a Buda, ele próprio tinha quinhentos discípulos que o
acompanhavam, todos grandes eruditos. Primeiro ele veio travar um debate, e
Buda ficou muito feliz: o que poderia ser mais bem-vindo? Mas Buda
perguntou: "Você conhece a verdade por experiência ou é apenas um grande
erudito? Ouvi falar de você..."

Olhando em silêncio para Buda por um momento, como que olhando num espelho,
completamente despido, Sariputta disse: "Sou um grande erudito, mas no que
se refere a conhecer a verdade, só posso dizer que não a conheci."

Buda disse: "Então será muito difícil argumentar. Argumentos só são
possíveis entre duas pessoas que não conhecem a verdade. Elas podem
argumentar até a eternidade, porque nenhuma delas sabe. Ambas são
ignorantes, então podem ficar jogando com as palavras, com a lógica,
citações, escrituras... Mas porque nenhuma delas sabe, não há possibilidade
de chegarem a uma conclusão. No máximo, o que pode acontecer é que o mais
esperto, ladino e trapaceiro consiga derrotar o outro, e o outro passará a
seguir o mais esperto ou o mais sofisticado. Mas essa é alguma decisão sobre
a verdade?

"Ou existe a possibilidade de encontro entre duas pessoas que percebem a
verdade, mas então não há como argumentar. O que há para argumentar? Elas se
sentarão em silêncio, talvez possam sorrir ou segurar a mão uma da outra,
mas o que há para dizer? Ao olharem para os olhos uma da outra elas
perceberão que não há nada a dizer, pois ambas sabem as mesmas coisas e
estão no mesmo espaço. Portanto, haverá apenas silêncio.

"E a terceira possibilidade é que uma pessoa conheça a verdade e a outra não
conheça. Então será muito problemático, porque aquela que sabe não pode
traduzir o que ela sabe na linguagem do ignorante. E a que não sabe estará
desnecessariamente desperdiçando seu tempo e sua mente, porque não pode
convencer a que sabe. O mundo inteiro não pode convencer a pessoa que sabe,
porque ela sabe e você não sabe. Vocês podem ficar juntos..."

Buda disse: "Você veio com os seus quinhentos discípulos e você não sabe, e
é absolutamente certo que entre esses quinhentos discípulos nenhum saiba; do
contrário, ele não seria seu discípulo, mas seu mestre. Você é mais erudito,
eles são menos; você é mais velho, eles são mais jovens; eles são seus
discípulos. Mas como discutiremos alguma coisa? Estou pronto... mas eu sei.
Uma coisa é certa, você não pode me converter, e a única possibilidade é que
você seja convertido: portanto, pense duas vezes".

Mas Sariputta já estava convertido. Ao ver esse homem... E ele era
inteligente o bastante, já tinha vencido muitos eruditos em debates...
Naqueles dias era uma tradição na Índia eruditos percorrerem todo o país
para travar debates com outros eruditos. A menos que uma pessoa tivesse
derrotado todos os eruditos, não seria reconhecida pelos outros estudiosos
como uma pessoa sábia. Mas estar diante de um buda, diante de alguém que
sabe... Não é uma questão de erudição e de quantos eruditos ele tenha
derrotado.

Buda simplesmente disse: "Estou pronto, se você deseja argumentar, estou
pronto, mas que argumento é possível? Tenho olhos, você não os tem, e não
posso lhe explicar o que é a luz. Você não pode ter nenhuma idéia do que
seja a luz e apenas ouvirá a palavra luz, mas a palavra não terá nenhum
significado para você. Ela não terá conteúdo e será ouvida, mas não
entendida.

"Dessa maneira, se você estiver realmente interessado na verdade, e não em
ser derrotado ou em ser vitorioso... porque esse não é meu interesse. Eu
cheguei... Quem se importa em derrotar alguém? Para quê? Se você estiver
realmente interessado na verdade, fique aqui e faça o que eu disser. Você
poderá argumentar mais tarde, quando tiver conhecido algo substancial,
existencial. Então você poderá argumentar."

Mas Sariputta era um homem imensamente inteligente; ele disse: "Sei que não
posso argumentar agora e sei que não serei capaz de argumentar depois. Você
acabou com a minha argumentação. Não posso argumentar agora porque não tenho
olhos; depois não serei capaz de argumentar porque terei olhos. Mas vou
ficar".

Ele ficou com seus quinhentos discípulos e disse a eles: "Não sou mais o
mestre de vocês. Aqui está o homem, eu me sentarei ao lado dele na condição
de discípulo. Por favor, esqueçam-se de mim como mestre. Se vocês quiserem
ficar aqui, ele será o mestre de vocês agora".

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Osho
Do livro "Buda - Sua vida, seus ensinamentos" - Editora Cultrix
Parte Dois - A vida de Buda
Trecho do capítulo "Sermões em silêncio"

5 comentários:

Anônimo disse...

...argumentar pelo simples prazer de argumentar, e gastar tempo, afinal gastamos tempo?
(desculpa se não era pra post publico, já que era endereçada a alguem)
joven versus velho, e é so tempo...

K disse...

um bj, kali!

Madame Nada disse...

Ela foi dedicada a alguem, mas eh enderecada a quem ouvir!

Anônimo disse...

Has anyone here tried tarot reading?


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Anônimo disse...

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