Fui fechando portas, abandonando algumas janelas. Tentei olhar para trás, mas não dava. O caminho já fora engolido por um nevoeiro, mas havia algo mais longo que se estendia a minha frente. Que outra opção temos? Pessoas como nós não podem fazer nada além de prosseguir. É uma compulsão. Sempre que parece que chegamos a algum lugar definitivo, ele se move. Ainda não chegamos lá. Estamos lá o tempo todo, mas ainda não chegamos.
Como cansa toda essa filosofia, mas não é filosofia, é a única maneira que sabemos viver. Fora isso, é a morte em vida, a aceitação da ordem do pasto. E olha que já fazemos muitas concessões a ela, eu penso. Tantas concessões que às vezes quase me esqueço. Mas os pés não me deixam esquecer, o corpo lembra, o corpo sabe.
À noite, minhas pernas mexiam sozinhas. Descobri que isso tem um nome: Síndrome das Pernas Inquietas. E isto atrapalha o sono. Dizem que exercícios melhoram o quadro (parar de beber café também, mas no momento, isto está fora de questão). Por isso não posso parar de caminhar. O caminho deixou de ser opção há muito tempo. Caminho mesmo parada.
Eu não pego caronas. Já peguei, mas nunca mais. Ando mais rápido a pé. Os barcos me tentam, mas a única maneira de atravessar os mares é nadando, assim como para atravessar os ares é o voo. E eu ainda não domino bem o chão. Por isso continuo andando.
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