Ser ou não ser - eis a questão.
Será mais nobre sofrer na alma pedradas e flechadas do destino feroz,
ou pegar-me em armas contra o mar de angústias - e, combatendo-o,
dar-lhe fim?
Morrer; dormir; Só isso.
E com sono - dizem - extinguir dores do coração e as mil mazelas
naturais a que a carne é sujeita; eis uma consumação ardentemente
desejável.
Morrer - dormir - dormir! Talvez sonhar. Aí está o obstáculo! Os
sonhos que hão de vir no sono da morte quando tivermos escapado ao
tumulto vital nos obrigam a hesitar: e é essa reflexão que dá à
desventura uma vida tão longa.
Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo, a afronta do
opressor, o desdém do orgulhoso, as pontadas do amor humilhado, as
delongas da lei, a prepotência do mando e o achincalhe que o mérito
paciente recebe dos inúteis, podendo ele próprio encontrar seu
repouso com um simples punhal?
Quem agüentaria fardos gemendo e suando numa vida servil, senão
porque o terror de alguma coisa após a morte - o país não descoberto,
de cujos confins não voltou jamais nenhum viajante - nos confunde a
vontade, nos faz preferir e suportar os males que já temos, a
fugirmos para outros que desconhecemos?
E assim a reflexão faz todos nós covardes.
E assim o matiz natural da decisão se transforma no doentio pálido do
pensamento. E empreitadas de vigor e coragem, refletidas demais, saem
de seu caminho, perdem o nome de ação.
(Hamlet, Ato III, cena 1)
4 comentários:
Quem pode suportar?
Quais sao nossas escolhas?
Quais sao nossas escolhas?
Nossas escolhas...são aquilo que vivemos, vemos, sentimos, cheiramos,tateamos...tudo isso, medido em anos cósmicos...
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